domingo, 11 de maio de 2008

Encontro com o Fungo

Chiados e um grito de pavor ecoam nos tunéis do cais. Pierre utilizando de sua velocidade sobrenatural sobe as escadas.

- Por que não me falaste daquele monstro Igor? Foi algum tipo de piada sem graça?

- Alguém me perguntou sobre o que tinha ou não lá embaixo? Eu tentei avisar, mas o senhor estava tão pronto a mostrar a sua masculinidade descendo as escadas e encarando os ratos, baratas e outros animais peçonhentos que pensei "acho que o Rei Rato não vai assustá-lo".

- Assustar-me? O que tu farias se um rato de quase três metros de comprimento pulasse em cima de ti prestes a te destroçar?

Hugo ria disfarçadamente.

- Ah vamos Pierre, deixe de frescuras, eu vou na frente desta vez. E além do mais, o que seus motoqueiros fariam se de repente eu entrasse em sua casa sem ser anunciado?

Igor desce as escadas vagarosamente. Chiados são ouvidos e de repente o silêncio.

Podem descer agora! Prometo que o Rei Rato não vai atacar ninguém...Ao menos quem eu não queira Falou em um tom mais baixo.

- Eu ouvi isso queridinho!

Hugo não mais se contendo com a cena hilária, desce as escadas ao encontro de Igor.

- Vamos Pierre, ainda temos muito o que fazer esta noite. Temos uma cidade inteira para patrulhar e você sabe que eu não confio nos delegados que fui obrigado a aceitar por pura imposição.

Os três encontram-se novamente. Rei Rato ladeava Igor, soltando um chiado alto de vez enquando para os visitantes. A caminhada pelos túneis parecia interminável. Mortais provavelmente teriam se cansado há muito.

- Essas voltas todas são realmente necessárias queridinho ou estás simplesmente nos desnorteando?

- A segunda alternativa Pierre. Igor riu.

Hugo que até então permanecera calado, reclama:

- Igor, não temos tempo. A noite já se avança e precisamos descobrir onde é o covil dos caçadores.

- Calma Hugo. Já chegamos.

E girando uma grande manivela, Igor abre uma comporta. O cheiro no cômodo por assim dizer, era o mais desagradável possível. Paredes emboloradas, ossos espalhados por todos os lugares. Ratos infestavam o local. E no canto mais escuro, um limo de tom verde-floresta movia-se vagarosamente.

- Então vieram em busca de minhas informações?

- Quem falou isso? Indagou Pierre procurando de onde a voz tinha saído.

- Não vieram em busca do Fungo? Aqui estou eu...

Hugo e Pierre olham agora para o limo que toma a forma humanóide e se aproxima deles. Rei Rato solta um guincho e todos os ratos do salão o acompanham até a saída. Igor lacra a câmara.

- Venerável Fungo. Igor faz uma reverência. - Vimos até aqui para... E o Fungo o interrompe.

- Sim eu sei o que vocês vieram fazer aqui. Não sou surdo nem cego, aqui nos túneis ouço e vejo tudo o que se passa neles. Ainda mais quando se faz tanto estardalhaço como vocês. Serei breve, vocês não podem perder tempo. Mas vou querer algo em troca das informações que tenho a passar...

- Sabíamos que não seriam de graça. Mas prossiga. Falou Hugo tentando apressar a conversa.

- Como podem ver, não posso sair caçando e ameaçar a máscara. Quero que tragam alimento para mim.

- Ok, ok. Isso será providenciado, vamos as informações.

- Tudo bem. Os caçadores se reunem mensalmente na sede da Grande Oriente do Recife. O dia é sempre definido na última reunião. A reunião deste mês já aconteceu e eles já estão na rua procurando suas vítimas. Creio que esta noite talvez tenhamos um novo Senhor da Cidade.

- Como assim?!?! Hugo falou espantado.

- Eles saíram no encalço de um dos servos de Claudius. A esta hora já devem ter destruído o seu refúgio e com sorte, também Claudius.

- Queridinhos, façam silêncio. Estão ouvindo isso?

- Ouvindo o que Pierre?

- Saiam de perto da porta agora! Grita Igor.

Mal termina de gritar e a porta que parecia impenetrável explode. Com o impacto Pierre, que estava mais próximo da porta, voa para o outro lado do salão. Hugo com sua força e velocidade sobrenaturais o segura antes que ele fosse de encontro com a parede.

- Você está bem Pierre?

- Ora, ora. Que irônico, alguém o qual desejava minha morte a menos de uma hora atrás perguntando se estou bem?

- Pare com esse sarcasmo idiota!

Igor desapareceu. Fungo voltou a sua forma de limo.

- Finalmente conseguimos encontrar vocês! Anos pesquisando esta área valeu a pena. Vamos irmãos, destruam estes sanguessugas nojentos de uma vez!

Quatro homens vestindo trajes os quais lembravam missionários católicos adentram a câmara. Um deles ao sentir fortes náuseas devido ao cheiro do lugar, começa a vomitar. Igor aparece repentinamente, segurando o distraído caçador quebrando-lhe o pescoço.

- Vamos destruam logo todos! E depois de ouvir isso, um dos homens que estava mais atrás executa uma prece em latim e suas mãos começam a brilhar como fogo...

Onde está o Senhor da Cidade?

Alvoroço geral no grande salão abaixo do Tribunal de Justiça de Pernambuco. Membros ilustres acomodam-se em suas cadeiras, cada uma adornada cuidadosamente para satisfazer os representantes e mais velhos de cada Clã ali presentes.

- Ele já está uma hora atrasado. Falou Xavier Pendragoon, entre os dentes.

Pierre D'Lambert que sempre parecia distraído com a suntuosidade única a qual o salão era preparado a cada reunião (mesmo as de emergência), retrucou com sua voz macia e sotaque francês extremamente carregado:

- Xavier, releve o atraso. Apesar da idade, non esqueças que ele ainda c'est un enfant mon cher.

E ao terminar sua frase, deu uma leve jogada para trás em suas madeixas loiras presas em uma longa trança.

De repente a porta dupla de mogno abre-se abruptamente. Todos se viram pensando ser o Ilustríssimo Senhor da cidade, mas quem adentra é uma figura de cabelos castanhos, longos e desgrenhados, trajando um jaleco ainda sujo de sangue e completamente molhada da chuva torrencial que caía la fora. Seus olhos de um amarelo pálido, injetados nas órbitas e um sorriso mórbido a deixam ainda mais assustadoras.
A água misturada com o sangue no jaleco, pinga quando ela anda, possivelmente deixando manchas irremovíveis do tapete persa azul-real escolhido cuidadosamente para esta reunião.
Ivo senta-se na cadeira a qual fora reservada para ele e sacudindo como um cão os últimos resquícios de água da chuva em seus cabelos, olha para todos os cantos como se procurando alguém no invisível paranoicamente - como era de costume, para então finalmente saudar a todos com um "boa noite" em sua voz rouca.

- Essa aura faiscante...Este cheiro de loucura...Ivo, desde quando estás aqui? Indagou Xiavier.

- Xavier por acaso além de cego ficou surdo? Não ouviu o estardalhaço feito por mim ao entrar? Respondeu Ivo em tom sarcástico como era costumeiro.

- Sim Ivo eu ouvi. Porém pensei já estares aqui entre nós a aproximadamente 20 minutos atrás.

- Aaaah, foi isso! Sim eu estive aqui, mas em projeção. Estava querendo confirmar uma coisa.

- E nós podemos saber qual "coisa" seria esta?

- Sim, sim...Só não lembro agora exatamente o que era...

Xavier balança a cabeça negativamente. Confiar na memória de Ivo seria o mesmo que deixar sua conta bancária aos cuidados de um Ravnos.

- Já pensou em consultar um neurologista e um psiquiatra? Eles poderiam estar resolvendo este seu problema. Se pronunciou sarcasticamente Marcos Gadelha, até então completamente em silêncio.

- E você já pensou em procurar um cirurgião plástico? Quem sabe ele não arruma essa sua cara de quem foi atropelado por um trem? Respondeu Ivo em mesmo tom.

- Mon Dieu! Parem com isso, estão parecendo recém-abraçados!

- A culpa não é minha D'Lambert! Foi esse feioso aí que começou a reclamar dos meus lapsos de memória. Só porque eu esqueci que no início da noite a mansão de Claudius fora invadida por caçadores de bruxas e incendiada posteriormente? Só porque esqueci que me projetei astralmente pra esta reunião pensando a mesma também ter sido invadida por essa escória? Só porque esqueci de falar que nosso Senhor corre perigo? Ih, lembrei o que tinha a dizer...

- E isso foi a quanto tempo? Falou Xavier em um tom assustado, nem se importando de disfarçar.

-Hum....Creio que a aproximadamente uma hora, 27 minutos e quarenta e oito segundos...Esperem, quarenta e nove, cinqüenta...Ahh esta porcaria de ponteiro não para!

- E o que estamos fazendo aqui ainda? Retrucou Xavier.

Ness exato momento a porta de mogno é novamente aberta abruptamente, desta vez com mais violência. Ita Açu, o Senhor do Clã Gangrel entra, carregando em seus braços Claudius Maximus XIV, o Senhor da Cidade com seus trajes impecáveis completamente rasgados e queimados. Sua pele e cabelos chamuscados ainda mostrando sinais de fumaça...