segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A Convocação Malkavian parte1

Som e luzes de sirene, placas indicativas de alta velocidade, gritos de socorro, a imagem da carta da torre fulminada, uma grande montanha de sujeira entre tantas outras imagens são transmitidas pela rede de loucura Malkaviana e, cada imagem para cada Malkavian em particular representava algo em uníssono: perigo eminente - se reúnam com urgência.

Júlio Correia, a pouco tinha despertado e estava no meio de uma caçada quando recebeu o chamado. Júlio era um jovem de seus 22 anos de idade, pele morena, cabelos cortados à maquina sempre trajando roupas informais e básicas como o velho jeans surrado, camisa branca e tênis all star.

- Mas que inferno! Nem comer se pode mais! Ah quer saber? Vou embrulhar para viagem mesmo. E falando isso bate forte na nuca do primeiro transeunte que vê e colocando-o nas costas e usando seus poderes para não ser notado, sai caminhando em direção ao local de onde foi originado o chamado, como morava próximo não demorou muito a chegar ao Ulysses Pernambucano, mas demorou o suficiente para que vários outros Malkavian chegassem antes dele.

- Júlio! Finalmente você chegou! Estávamos esperando por ti! Falou Libório Líbio, um homem magricela aparentando seus 35 anos de idade de ralos cabelos e olhos pretos, vestindo roupas impecavelmente brancas.

- Psiu Libório! Não vê que ele pode acordar?

- Ele quem, posso saber?

- Meu lanche ora essa! E falando isso, derruba o mortal que trazia nas costas no chão do lugar onde estavam. Nisso Libório olha para o corpo inerte estendido no chão e começa a tremer, fazendo uma cara de quem detestou o ato. Nesse momento, alguém põe a mão no ombro de Libório e ele se acalma.

- Carma fio. O Júlio só deve ter passado no Méquidônaldi pra trazê um lanchinho. Não foi isso mesmo Júlio? Falou Coronel Barbosa, um senhor com seus 70 anos de idade, usando um chapéu de palha, camisa xadrez vermelha com azul calça de brim e botas de vaqueiro e em seu ombro seu velho e inseparável bacamarte.

- Silêncio seus pecadores e profanadores da santa casa de Deus! Não vêem que estamos aqui orando pelas almas de todos nós e vocês aí discutindo por coisas ínfimas!

Quem interrompe a conversa em tom severo é Roland Fleeman, um padre que, mesmo após ser abraçado mantinha rígida a sua fé. Sempre estava acompanhado de suas crias e coroinhas Yuri e Sacha Smetana e da beata Maria das Neves.

- Ara Roland! Que bixiga de casa de Deus que nada! Tá ficando doido ou esqueceu que tamo drento do consultório do dotô Ivo?

Roland ignora o Cel. Barbosa e voltando para seus "seguidores" continua com suas orações.

- Ai gente quanto drama! Só porque eu trouxe meu lanche pra reunião? Ou alguém aqui nunca comeu pipoca quando estava no cinema quando em vida? Eu heim, bando de malucos...

Nisso Libório que até então tinha apaziguado um possível ataque de frenesi graças ao Cel. Barbosa irrompe em um grito:

- Júlio seu idiota! Tive o maior trabalho para ser o primeiro a chegar e deixar isso aqui brilhando para a reunião e você vem e me traz lixo da rua?!?! Agora esse seu "lanchinho" infectou todo o ambiente e eu vou ter que limpar e desinfetar tudo novamente!

- Tá bem! Na próxima eu deixo pra comer na rua mesmo para evitar esses seus ataques de frescura Libório!

- Não são ataques de frescura! Você sabe bem que se tudo não estiver meticulosamente organizado algo de ruim pode acontecer comigo e com quem estiver próximo a mim! Minha esposa Letícia Líbio sabia disso, ignorou meus avisos e encontrou a morte final! Não quero ser responsável pela morte de mais ninguém. E terminando de falar, Libório sai da sala de reuniões apressado batendo a porta na cara de mais um membro que chegava.

- Nhô Rogério? Cê ta bem?

- Ora Coronel! Se nem mesmo um trem é capaz de me derrubar, imagine essa porta boba! Não esqueças que sou um super herói de verdade!

- E eu, o seu fiel parceiro!

A visão não poderia ser mais cômica, mas como todos ali já estavam acostumados com o excesso de excentricidade de Rogério Pipa e seu carniçal Dentinho – assim chamado por ter a arcada dentária superior bastante projetada para fora da boca – que nem notavam as roupas colãs em tom vermelho fogo e as capas de cetim azul que ambos usavam, além dos cabelos em topete à Elvis Presley.

- Então, o grito de socorro partiu daqui. Quem está precisando de nossa ajuda? Será o Libório? Ele saiu como um raio de dentro do salão.

- Nah que nada Rogério. Foi só mais um ataque de frescura dele porque deixei meu lanchinho aí no chão.

- Senhor! Senhor! Veja! Ele está desacordado! Fala Dentinho apontando para o mortal que Júlio Correia havia trazido.

- Não se preocupem! Isso é mais um trabalho para o Super Pipa! E falando isso, corre para junto do mortal e o sacode fazendo com que ele desacordasse.

- Hã? Onde estou? O que está aconte... E mal o mortal termina de falar Júlio o golpeia novamente.

- Rogério seu burro! Ele não está em perigo! Ele é meu lanche entendeu? Meu l-a-n-c-h-e!

- E por quê não avisou antes?

- Mas eu falei. Ah, esquece! Quer saber, enquanto Ivo não chega eu vou lá fora lanchar e depois volto para a reunião. E Júlio arrasta o mortal para o lado de fora da sala, cruzando com Libório o qual vem carregando desinfetantes, desodorizantes e vários outros produtos de limpeza.

- Vê se quando voltar pra sala, limpa a boca e tira as migalhas da roupa para não sujar tudo novamente. Fala Libório olhando para Júlio pelo canto do olho.

- Já estão todos acomodados? Preciso dar início a essa reunião o mais rápido possível.

Todos os presentes sabiam que a voz era de Ivo, mas apesar de procurarem dentro de todo o consultório – que era um grande salão – não conseguiam encontrá-lo.

- Bem, chamei todos vocês aqui com o propósito de dar-lhes um aviso...

- Senhor Ivo? Onde estás? Falas do lado direito do trono de nosso Pai todo poderoso? Indaga Roland

- Eu acredito que ele tenha sido abduzido pelos coelhos padre. Falou Maria das Neves em tom de preocupação.

- Nhô Ivo? Que papagaiada é essa de falá escondido heim? Falou Cel. Barbosa, já empunhando o bacamarte.

- Xi! Desculpem! Esqueci que estava invisível aos olhos de todos aqui. E falando isso, Ivo se desofusca e aparece sentado, em um birô, nos fundos do salão, à frente de todos.

- Bem senhores, senhoras e transgêneros, o assunto o qual tenho a tratar com vocês é... Nisso Júlio Correia entra na sala.

- Ah finalmente! Não era dos melhores, mas para um lanche até que quebrou um galho! Ih, perdi alguma coisa?

- Ainda não Júlio, mas o Mestre tem algo importante a dizer, deve ser alguma missão de vida ou morte! Responde Rogério bastante animado.

- Então Senhor, o que seria tão urgente para convocar todos nós a sua santíssima presença?

- Err...Bem...Se eu falar que esqueci, vocês acreditam?

A grande descoberta

Ao ver um de seus companheiros de fé ser completamente destroçado pelas mãos de Hugo, os dois caçadores restantes perceberam que não poderiam lidar com tal força e saíram correndo da câmara, se embrenhando nas galerias adentro. A chama avermelhada em volta de Hugo se apaga. Pierre após curar seus ferimentos, se levanta atordoado olhando para o que aconteceu. Nesse momento uma voz é ouvida:

- Todos estão bem? E Igor sai de um canto escuro, se revelando para os presentes.

- Pelo visto sim Igor, mas não vejo o Fungo em lugar nenhum da câmara. Disse Hugo com um certo tom de preocupação.

Ao término da fala de Hugo, o Rei Rato aparece guinchando. Igor abaixa-se e começa a emitir o mesmo som, como se estivessem trocando informações.

- Como será que eles conseguem isso? Cochicha Pierre ao ouvido de Hugo.

- Bem, já sei onde o Fungo se encontra. Sigam-me.

O trio segue o Rei Rato pelo emaranhado de galerias até chegar a um corredor onde dois corpos jaziam no chão. Pierre ao aguçar sua visão fala em um tom mais alto:

- Caramba! O Fungo matou os padrecos! Mas após aguçar sua audição retruca seu próprio espanto.

- Como assim o coração deles ainda está batendo se eles estão tão rígidos como cadáveres?

Igor ri baixinho e responde ao espanto de Pierre:

- Eles estão vivos Pierre. O Fungo apenas utilizou um de seus poderes para drenar parte de seus líquidos corpóreos e enrijecer os tendões e tecidos superficiais.

- Como fazem alguns aracnídeos correto Igor? Falou Hugo.

- Sim, corretamente. Bem vamos tomar as devidas providências para quando estes dois acordarem não tentarem nenhuma gracinha.

Aproximadamente 15 minutos depois os dois caçadores acordam como de um pesadelo. Percebem que estão em uma câmara, diferente da primeira, amarrados em cadeiras e percebem os vultos de 3 figuras em sua volta.

- Matem-nos logo suas criaturas infernais! Não serviremos a seus propósitos jamais! Grita um dos caçadores.

- Nossa como vocês são patéticos! Indiretamente já estão servindo a nosso propósito seus imbecis! Fala Igor em um tom de chacota e agressividade.

- Vamos crianças... Esse cheiro de medo está aumentando ainda mais a minha fome. Retirem de uma vez as informações que precisam. Apesar de não saber onde ele estava, todos sabiam que essa era a voz do Fungo.
- Então, o que esses dois ratinhos de laboratório fazem perdidos em meio aos ratos de esgoto? Fala Igor, se aproximando de um deles.

- Nós... Nós... Começa a titubear um dos caçadores.

- Irmão! Mantenha a tua fé! Não caia nas garras desses demônios! Fala o outro, tentando inibi-lo.

- Peehhh! Resposta errada! E com uma sequência de chutes imperceptíveis a olhos comuns, Pierre derruba o caçador.

- Estou gostando de ver Pierre, tomando atitudes de homem. Fala Hugo rindo entre os lábios.

- Sei utilizar meus dons para isso quando necessário Hugo...

- Bem se as criancinhas quiserem podem continuar brincando por aí. Eu tenho trabalho a fazer. E segurando o outro caçador com força o suficiente para suspendê-lo do chão junto com a cadeira Igor fala agora mais grosseiramente:

- Vamos seu padre imundo! Diga-nos quem os enviou aqui e por que!

- A Inquisição! Ela instalou-se na cidade e descobriu os refúgios dos mais antigos e estão nesse exato momento caçando-s e destruindo-os!

- E onde é a sede de vocês? Vamos diga!

- Eu não sei senhor! Juro pela minha alma!

- Sinto cheiro de mentira em ti! Diga! Onde é a sede?!

- Eu juro senhor! Nada sei da sede! E ao repetir isso, seu corpo começa a se decompor como um vegetal entrando em decomposição até não restar mais nada além de fungos.

- Senhor! Eu estava quase arrancando a informação dele! Por que fez isso?!

Nisso Igor é jogado e preso contra a parede por um limo verde escuro pastoso.

- Escute bem criança, não foi apenas a fome que me fez tomar tal atitude. Ele falava a verdade. Esses caçadores que aqui vieram perturbar a nossa paz são apenas cães de caça manipulados por seus donos. O alto clero jamais arriscaria a deixar essa informação com eles, pois são apenas buchas de canhão. Temos um problema bem maior pela frente quando eles perceberem que alguns deles não voltaram ao ponto de encontro marcado.

- Isso quer dizer que eles enviarão a cavalaria oui?

Deixando Igor cair ao chão, Fungo toma sua forma semi humana e fala com os presentes.

- Sim Pierre, eles enviarão os caçadores mais experientes em nosso encalço e agora ao saber que eles estão querendo nossas cabeças a todo custo, precisamos redobrar a vigilância. Hugo reúna seus delegados e seus chicotes e leve-os até a igreja da Sé em Olinda – lá será o grande ponto de encontro.

- Sim Fungo, agradeço pela informação, entrarei em contato com eles imediatamente e vamos tentar um ataque surpresa.

- Reúna-os próximo ao mercado da Ribeira, lá um de meus batedores os levarão por um túnel o qual os deixarão bem próximo do objetivo final. Agora vão, precisamos emboscá-los ainda esta noite. Amanhã pode ser tarde demais para muitos de nós...

E assim, Hugo Henrique e Pierre D’Artagnan guiados por Igor Andrade saem dos túneis do Venerável Fungo partindo para a grande missão: encontrar e destruir os caçadores da Santa Inquisição.